Mas Vale calar os sentimentos do que demonstrar a quem não possa correspondê-los...
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Vem, doce morte
Vem, doce morte. Quando queiras.
Ao crepúsculo, no instante em que as nuvens
desfilam pálidos casulos
e o suspiro das árvores - secreto -
não é senão prenúncio
de um delicado acontecimento.
Quanto queiras. Ao meio-dia, súbito
espetáculo deslumbrante e inédito
de rubros panoramas abertos
ao sol, ao mar, aos montes, às planícies
com celeiros refertos e intocados.
Quando queiras. Presentes as estrelas
ou já esquivas, na madrugada
com pássaros despertos, à hora
em que os campos recolhem as sementes
e os cristais endurecem de frio.
Tenho o corpo tão leve (quando queiras)
que a teu primeiro sopro cederei distraída
como um pensamento cortado
pela visão da lua
em que acaso - mais alto - refloresça.
Henriqueta Lisboa
Novo poema da tristeza
Deixei passar a ronda lenta
De muitas luas,
Mas a minha tristeza não diminuiu...
Longe, longe,
O céu agora é deserto,
Como se houvesse morrido,
Como se houvesse acabado...
Sozinha, no meu luto,
Ergo as mãos,
Cheias de lágrimas,
Em oferenda...
Eleito, ó Eleito
Não me vês,
Não me ouves,
Não me queres!...
E vais deixar-me ficar assim
Toda a vida...
Oh! tem pena, ao menos,
Das aves,
Que podem vir beber
Nas minhas mãos,
E endoidecer depois,
Pelos ares,
Da tristeza que me endoidece...
Eleito, ó Eleito,
Deixei passar a ronda lenta
De muitas luas,
E a minha tristeza não diminuiu!...
Cecília Meireles
Assinar:
Postagens (Atom)